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De centro de repressão a símbolo de resistência: Já faz 1 ano da inauguração do Museu do Trabalho e Direitos Humanos, em Barra Mansa

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    memoriasdaditadura
  • 11 de jun.
  • 3 min de leitura
Alunos realizando uma visita ao Museu do Trabalho e Direitos Humanos, em Barra Mansa. O local antigamente era o Primeiro Batalhão de Barra Mansa, sím bolo da repressão na época da ditadura militar. Reprodução/
Alunos realizando uma visita ao Museu do Trabalho e Direitos Humanos, em Barra Mansa. O local antigamente era o Primeiro Batalhão de Barra Mansa, sím bolo da repressão na época da ditadura militar. Reprodução/

Por Vinicius Coutinho



O Primeiro Batalhão de Barra Mansa, antigo símbolo da repressão durante a ditadura militar, passou por uma transformação histórica no dia 3 de maio de 2024. O local, agora destinado a preservar a memória das vítimas desse período sombrio, foi transformado em um museu dedicado à resistência e aos abusos enfrentados pela população local. O espaço, como explica a coordenadora Alejandra Estevez, atua como instrumento de preservação da história e também como ferramenta política e pedagógica voltada à formação das novas gerações.


O Centro de Memória, reconhecido nacionalmente por sua atuação na defesa dos direitos humanos, organiza-se hoje em cinco frentes principais. Uma delas é a preservação e digitalização de acervos, incluindo doações de antigos militantes perseguidos pela ditadura militar. Esses materiais são organizados e disponibilizados no site oficial, compondo um acervo documental que alimenta não apenas a pesquisa, mas também a formação crítica da população.


A Coordenadora do Museu

Alejandra destaca o papel pedagógico da instituição como um dos mais relevantes. Segundo ela, os projetos educativos visam não só a transmissão do conhecimento histórico, mas a construção de uma consciência cidadã voltada à justiça social e à democracia.


“Pensamos sempre a memória a partir do presente. A relação entre a violência de Estado no passado e as violações que ainda ocorrem hoje é um dos eixos centrais do nosso trabalho. Por isso, promovemos uma educação para o ‘nunca mais’, que busca evitar a repetição dos erros do passado e fortalecer o compromisso com os direitos humanos”, afirma Alejandra.


Entre os projetos de destaque, estão o CineArquivo, que exibe filmes sobre direitos humanos na fachada de edifícios históricos; o Direitos Humanos nas Escolas, com palestras em colégios de Barra Mansa e Volta Redonda, muitas vezes com a presença de ex-presos políticos; e o Visitas Compartilhadas ao Antigo Bibe, nas quais estudantes visitaram o antigo batalhão militar, hoje transformado em espaço de memória. Essas iniciativas, segundo Alejandra, foram fundamentais para construir junto à comunidade o desejo de criar o museu.


Conscientização dos Jovens

A professora Ana Paula, da Universidade Federal Fluminense (UFF),  que já realizou visitas com suas turmas ao local, reforça a importância dessas visitas guiadas para o processo educativo. Segundo ela, o impacto nos alunos é positivo, especialmente quando os conteúdos sobre ditadura, violência de Estado e direitos humanos já foram previamente discutidos em sala de aula. 


“A visita ajuda a materializar aquilo que os estudantes veem de forma conceitual. Muitos começam a perceber que essas violações ocorreram perto de suas próprias casas, como no caso de alunos de Barra Mansa e Volta Redonda. Isso gera um envolvimento muito maior com o tema”, afirma Ana Paula.


Para a professora, é fundamental que esse tipo de experiência esteja articulada ao trabalho pedagógico em sala de aula.


“A visita externa tem o potencial de rememorar vozes silenciadas e mostrar como a história é composta por múltiplas narrativas. Ela amplia a compreensão da memória como construção coletiva, e não apenas como algo do passado”, explica.


O Museu do Trabalho e dos Direitos Humanos foi inaugurado em 5 de maio de 2023. A decisão, segundo a coordenadora, foi estratégica, para manter viva a mobilização em torno do projeto e sensibilizar a sociedade sobre a importância da preservação da memória. Ainda este ano, está prevista a inauguração da primeira grande exposição do museu, programada para o dia 30 de maio, em celebração ao mês do trabalho.


Alejandra também comenta sobre os desafios contemporâneos relacionados à negação do passado autoritário brasileiro.


“Desde 2016, com o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, temos visto o crescimento do negacionismo. Há quem diga que a ditadura não foi tão ruim ou que nem existiu. Mas as Comissões da Verdade comprovaram, com respaldo oficial, as barbaridades cometidas. É fundamental discutir isso, inclusive a Lei da Anistia, que é um entulho autoritário e que muitas vezes serve para alimentar o esquecimento”, ressalta.


Ana Paula concorda e reforça o papel de espaços como o museu em tempos de negacionismo histórico. Para ela, “fazer esse elo entre passado e presente é essencial para construir uma cultura de direitos humanos”.


“Negar o passado se torna insustentável quando observamos as continuidades de violações de direitos humanos ainda hoje, como a tortura e as execuções sumárias praticadas por instituições ou agentes do Estado. O caso Amarildo e outros episódios recentes deixam isso evidente”, afirma.


Segundo Alejandra, entender esse passado é essencial para restaurar a confiança nas instituições democráticas e fortalecer a cidadania.


“A educação é nossa ferramenta mais potente para garantir que esses fatos não sejam apagados. São as novas gerações que precisam resolver essas questões, com o apoio de quem viveu e resistiu, e com base na história que não pode ser esquecida”, conclui.



 
 
 

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